"O menino palhaço"



Sem as minhas roupas eu não sou ninguém.
Nem menino, nem crescido, nem conhecido e nem em nada, sabido.

Nos meus desejos, pedi uma vez para ser engraçado.
Deram-me então, uma roupa de palhaço.

Com nariz e com sapatos, e mais ainda: um ofício.
Eu amo o que eu faço!
Eu faço rir no circo.

...

Parece até que foi para isso que eu nasci.
Sendo um palhacinho, eu posso errar à vontade.
No percurso de aprender a viver, sempre tem o que sai errado.

Porém, com meu nariz colocado, cada erro vira um riso em tantos sorrisos...
Que eu posso até esconder o meu medo de ser rejeitado,
Minha insegurança como menino pequeno,
No mundo onde errar é pecado.

Sendo funcionário escondido, meu trabalho pode ser desastrado.
A diferença é que aprendo podendo errar livremente.
Quanto mais erros, mais gargalhadas eu causo,
E isso é suave como meu medo de não ser importante...

Com um nariz vermelho ao qual sou apegado,
Mal sou percebido como um garotinho assustado,
Entendendo a rapidez de tudo no mundo urgente,
(até rir é preciso fazer com velocidade)
É um mundo sem calma para criança crescer...

Por trás de todo nariz vermelho existe um bom medo,
Mas ninguém nem precisa saber.
Nariz de palhaço ocupa bastante espaço.

Há quem pense num palhaço como um desocupado, e não sabe que até errar muito dá trabalho.
Entre todas as trapalhadas que faço, quem vê nem sabe qual é sem querer e qual é exagerada para espetáculo.
Nem nunca vai saber.

Eu conto em segredo sobre meu medo de, sem ser como alvo de piada, não ter direito nem de viver.
Meu esforço é para, ao menos um palhaço, me deixarem ser.

Eu prometo surtir gargalhadas aos montes. Enquanto o mundo ri de mim, eu aprendo entregando “do que eu teria medo” ao nariz imenso, que amo tanto em segredo.

Não deve ser normal gostar de existir como um bobo, colhendo erro em forma de vulgo, e cheio de saber.

Aprendo a entender o ofício de um palhaço como um lugar para eu me esconder.

Tenho tanto medo de ser deixado de lado, de nunca ser amado, e de perder a graça, que meu nariz é parte de poder tropeçar, cair, espirrar, esquecer o que ia fazer... Isso em paz e sem medo do resultado, é sinal de ser como eu.

Um palhaço trocando a fala por, em silêncio, dar motivo de risada. Afinal, quem ri de mim nem percebe meu medo de não agradar e de não conseguir aprender.

...

Pois bem, um dia no lugar de meu infante trabalho, fui ordenado a subir numa escada e andar na corda bamba até o outro lado...
Fiquei desesperado!
Olhei às alturas de onde daria meus passos, e não conseguia subir.

Eu sou muito criança para ser palhaço no alto... Mas o dono de mim existindo não quer saber de medo, muito menos as outras coisas que sinto...

Ele quer é o circo lotado, e o público rindo de tudo ‘de medo’ que há para apresentar nos corações gelados buscando no circo, alguma emoção.

Para isso existo. Para quando a vida parece perder o sentido (não entendo isso que acomete os adultos), eu estar ali para ser pior que o pior sentimento.
Aquele de quando o coração dá defeito, e para de amar os momentos...

O circo serve para buscar as pessoas.

...

Foi número não avisado, e eu tenho tanto medo de gritos altos...
Acho que berros podem virar um monstro, e devorar desobedientes...
Não acredito, mesmo nunca tendo visto, que um grito desobedecido some no vento.
E se o grito me pega de jeito e conta pra todo mundo que tenho medo de tudo?

...

Tentei subir, mas o medo não deixava o degrau me acolher e, para cima, seguir.
Não conseguia obedecer o dono da festa nos outros.
E não é aceitável me recusar só por ter medo da corda no alto, então pensei em ser justo e voltar a ser só um menino.

Sem o nariz amado e o trabalho de errar em paz.

Tentei segurar minhas lágrimas, mas deixando o nariz para trás, fiquei muito triste de verdade!
E fui embora apavorado, até que ouvi!

Meu nariz pareceu estar vivo!... E não queria me deixar ir embora chorando, para voltar a ser um menino sem o dom de fazer rir,
Sem a chance de aprender com tranquilidade o que a vida quer ensinar no tempo de cada um, nascido justamente para exercer um trabalho: ir de volta para o nada ou para o céu, tendo melhorado enquanto aqui ficou aprendendo a crescer.

Meu nariz me chamava de volta como se me amasse o tanto que eu o amo em mim!
Virei de volta para ver se era sonho, delírio ou verdade, que um nariz sabe não se separar do rosto de um palhaço, e era!

Como uma bola de brinquedo, subiu as escadas e fez por mim o percurso difícil sozinho!
Cheio de coragem e todo concentrado, sumiu para o outro lado.
Até pensei que o perdi!

Pois ele desceu e voltou pulando para o meu abraço, e eu coloquei ele de volta em casa: no meu rosto acostumado a ser engraçado, para ficar até quando eu crescer com coragem de ver esses momentos como um trabalho passado.
Em que tive a chance de errar sem ser castigado, até eu aprender a entender que tenho valor, sendo palhaço ou um menino falível...

Enquanto isso, ele mora comigo no rosto surpreso e assustado, me deixando por trás da alegria, sendo ensinado pelo meu coração inseguro que erros são importantes como aniversários...
Servem para o ser humano conseguir, com o tempo passando, aprender a ser também um ser compreensivo e amável.

E, quando vi, fui amado!
Enfim, por mais medo que meu nariz tenha sentido subindo tão alto e sozinho, ele não me deixou deixá-lo naquele momento.
Deve ser porque ainda não é hora de deixar de ser um palhacinho antes de ter coragem e preparo como têm os adultos que vão ao circo NOS VER.

(Olívia)

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