"A Caixinha"




Só porque eu sou uma caixa, não quer dizer que eu não saiba as cores das coisas.
Eu sei andar e pensar.

Chão é verde se tiver grama, e marrom se for de terra.
E o sol não é verde nunca.

As coisas são dessas cores, e o vento é branco.
O vento só é mais escuro um pouco quando é noite.

Eu não.
Nunca tive cores.

Mas eu tenho tinta faz muito tempo.
E numa lata bem com as cores certas das coisas;
E um pincel grande.
Fui buscar quando vi o chão lilás.

O sol lá, tudo verde... Pensei em pintar as coisas como elas devem ser.
Ao invés de deixar estranho.

Eu aprendi o que sei, olhando.
E sei que roxo não é de pisar, é flor. Sol vem de ser bola de fogo!
Sou sozinho e não conheço ninguém ainda. Não vieram, ou vão nascer...

Pensei:
“Ué, as coisas têm cores erradas, mas já são coloridas.
E eu que nunca apareci na vida?”

Eu sou transparente, mas sei que o chão pode ser marrom...
O sol depende de que horas são...
E eu não alcanço pra pintar ele.
Ainda sou uma caixa criança...

Eu ia pintar o erro grande, só que eu nem cor tenho...
É minha tinta e a minha chance. Mas...

E se eu errar igual eu caía antes de saber andar?
É muito grande borrar ou não esperar secar...
Só tem isso de tinta, mudei de idéia, vou tentar me pintar.

Ai, como pode?
A tinta ERA amarela e marrom!
Já sei o porquê ela fez isso!
Eu devia ter explicado que eu queria ser colorido...
E não! Ter ido buscar meu baldinho e meu pincel avisando as coisas que eu ia pintar certo de volta... Porque elas ficaram esperando erradas o meu conserto vindo...

Devem ter ficado felizes e ansiosas, conversando o sol com o chão...
E eu voltei e não cumpri o que ia fazer...
Fui egoísta e desleal. Elas estavam erradas, mas não feias...
Feio fui eu, uma caixa que prometeu tentar mudar para o certo e não fez!

A tinta, o baldinho e o pincel são meus!, mas pararam de ser quando dei esperança pro sol e pro chão...
Agora não adianta explicar que eu também queria ser colorido...
A não ser que me perdoem...

Nunca vai ser justo como se eu não tivesse dado esperança e a minha palavra...
Por isso que as cores do chão e do sol que eu tinha certinhas na lata de tinta, viraram as cores do chão e do sol quando errados... Agora sou eu!

Eu fiquei uma caixa estranha e colorida.
Mas por eu ter percebido o que fiz e prometido não repetir, e isso ser de verdade...
Não fiquei zangado com a tinta ter me enganado. Por ter acabado de fazer o mesmo, e a tinta me ensinar a ser pago o aprendizado...

Depois da lição, pulei de felicidade por conhecer meu coração.
A felicidade é saber que esse erro não cometo mais...
E parece que o sol e o chão entenderam! E vêem! Minha bondade...
Tanto que agora enquanto pulo contente, as coisas mudam de cor pra sempre.

Não tem certo e errado, tem entender que, como uma caixa criança, estou aprendendo com meus erros, a crescer.

(Olívia)

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